Tuesday, October 12, 2004

Discurso indireto

Não sei ( ou ela não sabe?) se opto pela primeira ou terceira pessoa e penso ( ela pensa?) que o presente descreve-se por si mesmo, sendo minha ( sua ) intervenção desnecessária. Diante desses impasses , decido (decide ) pelo equilíbrio, embora seja a escolha mais frágil. Segunda pessoa e pretérito (imutável).
Sabes que calou-se por tão pouco e tua boca fechou-se seca em promessas perdidas entre velhas pretensões e histórias agridoces e sentaste diante de janelas sem vista apenas para tomar espasmos de vento, tão raros quanto abafados - mas esses soavam-te frescos. Enquanto olhavas os ladrilhos do prédio mais próximo, deixavas as mãos pendentes ao lado do corpo por não poder tocá-los e sentir-lhes o frio da superfície. Não ouvias as vozes dos vizinhos e criavas palavras que te dissessem algo de agradável sentido e remetia-te, só, ao primeiro dia. Não piscavas, olhos fixos , em quê? Não podias fitar tua própria expressão mas aliviava-te pela solidão que impossibilitava que outrem a visse, imaginava-te triunfante e assim serias. Podias certificar-te do teu semblante por tua vontade ininterrupta de estar no controle e sabias tua soberania sobre teu corpo estático.
Bateram na porta e não abriste, mas entraram mesmo assim. E o que fizeste ?

( E o que faço? )