Tuesday, June 02, 2009

Dezembro de 2008

Provavelmente no Rio, talvez em Paris. Escrevi “Ela morreu no acidente da Air France. Rio/Paris, sem escalas.” Nunca ouvera acidente tal.

Aconteceu. Na noite de domingo ou madrugada de segunda, dependendo do seu fuso horário.

Não me desfiz no ar,, como os 228 a bordo. Na noite de ontem, já pelas 23 horas e livre das lamentações da tarde, motivadas pela velha máxima de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar (o que pode se tornar um pensamento de humor negro total, dadas as possíveis causas da tragédia) meu pensamento inverteu-se de forma imprevisível.

(Re)tornando-me mística, pensei que talvez este acidente tivesse lugar agora, pois não haverá (ao menos não como o descrito, tão perfeitamente, numas linhas de alguns meses atrás e numa noite real e recente) daqui para a frente. Talvez fosse um sinal. Uma alegria involuntária puxando-me para a vida. Fiquei feliz.

Mas a zona de convergência intertropical permanece sobre Atlântico, rota de todos os vôos entre Brasil e Europa. E quando ninguém espera, pela convivência com aquilo (ao menos no caso dos pilotos e entendidos em aviação), pode ajudar a derrubar uma estrutura sólida.

E de uma hora para a outra tudo se desfaz no ar. Não existe avião à prova de queda. E quando tudo parece estar adquirindo uma solidez e constância, um hábito, ainda pode nos surpreender, como jamais imaginamos.

My uppers and downers. Sempre tão juntos, de mãos dadas, mãos nos ombros, nos braços, na cintura, na bunda, bocas juntas. E mesmo quando são sólidos (matéria), inesperadamente me desmancho no ar.

My uppers and downers. Quand je, enfin, essaye vraiment de prendre soin de moi. Mesmo em francês errado, mais uma vez.