Friday, October 17, 2008

Au tour/ au retour

Volto para casa simplesmente porque escrevo. Porque tenho vontade. Porque na volta, o metrô para e me pergunto o que aconteceria se houvesse um acidente ali àquela hora. Ele saberia. Por causa de son métier. Eu penso com alguma freqüência sobre acidentes no metrô de Paris.
Penso em A.
No que há entre minhas pernas. No que há na minha respiração. En ce qu'il y a quand je sens un bras, habilé sur un pull, toucher le mien. Comme si j'avait 15 ans. Em como eu escrevo em francês errado e em como as línguas de misturam na minha cabeça. Só o português, certamente, seria correto. Mas penso também em inglês e francês. E quanto mais eles se misturam, elas se misturam.
Il y a des mots that sound better in a determined language.
I want to fuck you.
Estou morrendo de saudades.
J'ai envie de toi.
O português é mais pudico. É mais fácil ser vulgar numa lingua estranha.
Il n'aime pas la couleur de mes ongles. Il me trouve moche comme les autres.
Je suis toujours dans le même état.
J'ai toujours peur.
Meu medo antecipa-se, sempre e impede-me.
Meu medo é assustador como meus olhos. Meus olhos sempre maquilados, talvez para causar mais horror que aquilo que transborda de mim.
Minha presença e ausência. Minha presença é a antecipação da minha ausência. É a causa.
Minha presença é afastamento.
E o que me causa esse horror imenso, que se torna parte de mim em cada instante em que vislumbro uma presença que não minha, é que a presença/ausência de outrem não causa horror.
É o que desperta afeto, ou ao menos não o desfaz.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.
A sensação do amargor na minha boca quando estou em face de doçura. Sabores diferentes, um após o outro, potencializam-se.
É a sensação de já ter passado ou ainda ser cedo. E sobretudo a certeza de que um ou outro não existem. Em absoluto.
Par rapport a moi, peut-être.
Personificam-se.