Tuesday, January 12, 2010

De boas intenções o inferno está cheio e outros ditados pertinentes

Por que me fazer bonita, por que pintar essas unhas e esses lábios de vermelho, por que a minha língua resseca de aquecimento artificial nestes interiores que ainda se fazem sentir tão externos, por que a roupa suja no meu corpo negligenciado, por hora sem feridas, que freio antes de provocar, como sempre e é bom que você saiba, acho que já sabe, nunca fui boa em esportes e como poderia eu pensar agora vencer, e onha que sempre tive a consciência de ser mais fraca, mas velo a verdade sob véus pretos, sempre pretos, de senhorinha portuguesa, mesmo tentando, mais pelos outros evidentemente, smepre é, colocar mais cor no meu armário que vou enchendo de culpa consumista, de classe média oh so cheap que acha que é alguma coisa na terra que tem palmeiras onde canta o sabiá, a propósito, não são só as roupas, é tudo barato, meu preço é barato, lei da oferta e da procura, esse vinho é barato e essa garrafa, sim, ela é furadinha no fundo, então não deve ser tão ruim, ela eu queria ser toujours a de antes para neste exato momento arrebentá-la entre as mãos, e ver se bordeaux ou borgonha descreve melhor vermelho escuro, mas eu sou tão boazinha, achei que isso fosse com tudo mundo, mas é só com você e é por isso que não velarei contigo o corpo do teu pai ou tornarei viva a memória daqui a tantos alguns anos; é, talvez o meu destino patético não seja morrer como o pai de vocês, mas de engasgo, só que não com o alívio cômico para as gerações futuras da espinha de bacalhau, embora talvez este fosse o mais coerente, perpétua ridicularização, que no tempo do além túmulo tomará o lugar do filho, natimorto, da árvore, para a qual cago e ando e do livro, de que não fui capaz, ao contrário delas, de quem tanto se esperava - cumprido; ou ao contrário, de quem não se espera e não fará, mas que fala a mesma língua e está quase no mesmo lugar, enquanto eu sou uma perdedora no sentido daquele país ou do outro, e ele não haverá de ter nem dó nem piedade. Meninas bonitas não dobram a esquina a pé. Mas eu bem já tive um carro, que nunca soube conduzir.