Friday, December 17, 2004

Todo silêncio

Era estranho, apenas isto. E, fosse noite, certamente choraria (contudo, jamais como criança). Mas por que, se era somente um motivo a mais? Entre tantos. Sempre um entre tantos. E sempre a mesma ausência - plagiava Drummond - e o mesmo olhar exausto e as mesmas olheiras fundas e o rosto pálido e os lábios incolores. E estava sentada, sozinha, num refeitório de empresa, luz fria-?- ( e vocês estarão dançando esta noite, aproveitem bem, tenho certeza de que vai ser legal, não, eu realmente não vou - eu nunca vou - vocês sabem a razão, deixa pra lá). Impessoal. Asséptico. Incômodo. Seria melhor acostumar-se, por que sair dali? Antes lá estar, longe de qualquer burburinho ou ouvir restos de conversas e encontrar sentidos indesejados ( sei que foi sem querer). Que a procuravam e invariavelmente achavam. Alheia? Mas...
O que fazer então ( sinta-se lisonjeado) se ele a havia feito ver o sol nascer entre as nuvens por detrás do Pão-de-Açúcar?

Todavia, nunca soubera lidar com os fatos. Suposições eram confortáveis. Não se confirmavam. Tampouco se desmentiam. Reticências. Fatos supunham ponto final. Lineares e constantes. Estranhos e inoportunos para alguém entre o salto mais alto e a queda livre. No entanto, somente podia confirmar: fato era. Ao menos estivere certa. Não era hipótese. Apenas engano.