Thursday, February 10, 2005

Últimas noites

Nas últimas noites, não pude ver-te dormir. Nada mal, não precisas da inconsciência para transparecer serenidade. Teu rosto somente, ao ler um livro, teus traços evidentes fortes suaves, a linha da tua boca e todo um frêmito insuportável de não ter. Tuas mãos e as dela naquela fotografia. A fuga. Meus olhos miravam os teus e eram intensos, pensaste que eu dissera algo: nada. Nenhuma palavra. Não há necessidade. Então pego um cigarro e mais outro, não sou fumante e mais uma cerveja e taças de vinho e drinks aguados com gosto de memória. Apenas não sei quando parar.
Mas choveu no último dia, bom sinal, não há mais nada a aproveitar e para você é tão fácil, sabe que não tenho coragem de tocar-lhe a face e dizer-lhe boa noite pois sei não haver última chance, tampouco primeira ou vírgulas e interrogações e reticências. Hoje, limito-me a ouvir os sons do teu sono mesmo que ver teu rosto ao dormir seja difícil, negou-me deitar ao seu lado e como eu quisera que aquele gesto fosse um convite. Entretanto, devo saber me colocar no devido lugar e dissimular a dor. Quisera eu que repentinamente pronunciasse meu nome, embora seja o mesmo d´Ela e de tantas outras. Nem mesmo assim. Fecho o livro na penúltima página.