Sunday, June 12, 2005

O primeiro aniversário

Hoje.
Assopra a vela. Bem-vindo. Ela nunca conseguiu cantar parabéns e não sabe bater palmas. Ou aplaudir de pé. Desde os cinco anos mais ou menos. Fosse a menina mais bonita da cidade - e arredores - seria diferente ( Bukowski entorna o uísque e apaga o cigarro na mesa do canto ).
No entanto, era irremediavelmente pálida - "hate summer" on her t-shirt- e tinha os olhos fundos de quem talvez, hipótese remota, houvesse dormido. Não esqueçamos o defeito na mão esquerda, visivelmente imperceptível. Tivera olhos verdes, fato. Pretérito mais-que-perfeito. Diante dos docinhos, mal conseguia olhar para frente. Sempre tomando outras dores,vergonha do ridículo dos sorrisos alheios, não sabia onde deixar os próprios braços. Traumas de infância análise resolve. Ou viram álibis ( Bukowski arrota, como você é grosso, mas afinal, é só sexo embora vez ou nunca escorregue um "te amo" quase engolido, sabe, é brega mesmo assim, não quer isso, quer?).
Naquele dia, porém, pintara a boca de vermelho puta e bebera vinho francês no gargalo apenas com seu par de gatos siameses. À la Marilyn, biquinhos e susurros para happy birthday to you. Câmera em close, plongé. Cores esverdeadas de fita velha. Uma saudação. Sorvendo as palavras para criar o hábito.
Fazia um ano abortara num açougue da Dona Mariana. Lei de Murphy, não podia mais ter filhos. Mal sucedeu em cortar os pulsos. Então tatuou uma cicatriz e uma data. Não fosse por isso, estaria brincando de casinha.
- Quem pode apagar as luzes?