Sunday, March 26, 2006

Inexorável

Lá estava vazio.
Prestes a fechar as portas definitivamente.
E quem de vocês sabia disso? Talvez sequer se lembrem de haver pisado naquele lugar.
As mãos buscam outras peles. Os olhos, outros rostos. A cabeça, outros entorpecentes.

Cavalos de corrida, robustos e sadios, imunes a qualquer queda. Ontem à noite, caros ouvintes, lá estava vazio. Ninguém compareceu ao último baile da ilha Fiscal.

Talvez a queda tenha sido suave. Talvez por isso, digerida facilmente. Ao que parece, ninguém sentiu náuseas. Mas minha boca reteve um gosto estranho, ficou seca. E não foi o álcool daquelas noites.

Mesmo assim, fazemos, todos, ainda, questão de assistir à nova geração de cavalos de corrida. Robustos e sadios, imunes a qualquer queda. Disputam aquele páreo que já corremos algum dia (pensávamos que com sucesso insuperável).

Hoje, alguns de nós imaginam participar de outra categoria. Masters do mesmo esporte. Atletas aposentados da mais alta estirpe.

Outros bebem sozinhos em casa, profissionais decadentes. Abrem álbuns de fotografias e embriagam-se com glórias passadas.

No fim das contas, tanto faz. O que ninguém mais viu é que lá estava vazio. Prestes a fechar as portas definitivamente.
Muito simples, acontece, o tempo passa, as mãos, as peles, os olhos, os rostos passam, os entorpecentes mudam.

Só resta aceitar. Acabou.