Friday, May 29, 2009

Por guerras não particulares

Quero bombardeios em volta dessa casa. Janelas trincadas. Desde que o jantar continue a ser servido solene e pontualmente, todos os dias às 19 horas, com o serviço de prata e a porcelana antiga de minha bisavó. Segue-se a hora da leitura e o chá antes do recolhimento.
Mas que caiam as bombas, em ataques aéreos, em volta, e bem perto.

Sunday, May 24, 2009

Fim

É isso apenas. Numa mesma sentença só mudaria o sujeito. A sua dor pela minha. Sem opção. Apenas um bom-mocismo confortável.
Cito as últimas três estrofes de Drummond:

"É sempre no meu trato o amplo distrato
É sempre na minha firma a antiga fúria
Sempre no meu engano outro retrato

É sempre nos meus pulos o limite
É sempre nos meus lábios a estampilha
É sempre no meu não aquele trauma

Sempre no meu amor a noite rompe
Sempre dentro de mim meu inimigo
E sempre no meu sempre a mesma ausência."

Wednesday, May 20, 2009

Para passos mais firmes

Deveria começar pela dica número um. Mas não faço ideia de qual seja. E nem as seguintes.
Permanece o sentido da ausência.

Tuesday, May 12, 2009

Desventuras em série

Os versos do Drummond já se tornaram uma amarga ironia-regra para mim.
Será que é isso que chamam karma? Possivelmente.
Meus pés sempre estarão no chão, forçados a criar raízes profundas.
Quantas vezes caí do cavalo, quantos filhos perdi.
Deitada na cama ainda, as notícias são ruins. Sangramentos. Pequenos. Mas já conheço o prenúncio.
Pensei que dessa vez conseguiria, que finalmente sentiria a dor e alegria do parto. Como das últimas vezes, fiquei quietinha, sem grandes emoções, mas... Acho que nem assim.
O médico confirmou o perigo iminente. As mesmas palavras cortantes de sempre. Mas recomendou-me apenas manter o repouso e a calma. Desesperar-me pode ser pior. Talvez ainda consiga segurar.
Talvez.
E como quero.

Monday, May 11, 2009

Olhos vivos.

Uma nova ausência. De palavras. Olhares enviesados e persistentes. Meu velho camarada. Nenhuma palavra.
Sigo deitada na cama há dois dias, tremendo. Um medo assombroso. Ameaça de aborto. Não posso levantar. Espero apenas. Não quero o sangue escorrendo mais uma vez.
Há duas semanas pensei que esta ameaça não mais rondasse. E então retornou, com tanta força. E estou presa na cama, torcendo para que o vazio não se torne físico.

Friday, May 01, 2009

Sem botas para chegar a Ipanema

Por total acaso, em um espaço temporal puro de menos de uma semana, a percepção dos fatos, ou de mim, muda. À primeira leitura, esta frase me pareceu muito pobre. Mas é isso, apenas. Na terça-feira, vi o ponto final. Constatei-o. Um dia depois, tive a clareza do que havia ocorrido. E me expus como antes, mas sem uma segunda intenção (ainda que outrora esta fosse involuntária). Ouvi uma frase realista, em tom quase corriqueiro, e ainda que tenha sido dura (ou ao menos minha interpretação), consegui absorvê-la com uma serenidade que não me sabia capaz. Consegui não absorver outras mais.Vi como o tempo de fato assume feições angelicais e demoníacas, com todas as ironias que o leitor conseguir injetar nesta afirmação. Pela primeira vez não chorei pela Ausência, agora confirmada e indelével. Pela primeira vez chorei por amizade. Por não ser capaz de estar ali, por um comportamento que hoje julgo inaceitável ter em relação a qualquer pessoa. E não foi por um ele, ou algum deles de outros dias, ausências e presenças.

Talvez, sendo, a meu ver, alguém pior do que me acreditava, percebi ter me tornado alguém melhor.

Peço desculpas a quem devo. Sem o menor pudor de ter soado piegas.