Sunday, June 29, 2008

Tu sens bien

Agora o cheiro dele impregna o meu banheiro. E não dá para lavar com água sanitária.
“Tu n’as pas besoin de mon aide pour être stable. »
Poderiam ter sido estas as palavras lançadas no chão do meu banheiro, a deixar tal rastro.
Mas foram ditas por um pai a ensinar a filha a andar de patins. Todas as frases assumem sentidos circunstanciais. Eu nunca soube andar de patins ou de bicicleta. Tenho pânico de direção. Tremo sobre saltos altos e esbarro nas pessoas o tempo inteiro.
«Tu n’as pas besoin de mon aide pour être stable. »
« Je n’ai pas besoin de faire l’amour avec toi. »

Saturday, June 28, 2008

Nouvelle Vague, parte 1

J’aime bien les petites histoires.

Eu quero escrever uma história pequena. Três parágrafos bastam.

Uma idéia para começar um diálogo, num café, bien sûr. (Na verdade o máximo que pode ser atingido enquanto cenário é algum bar da Lapa).

- Não preciso transar com você. Tenho um namorado austríaco e um amante francês. O amante, aliás, é a sua cara. Mas é parisiense de verdade, não um projeto de.

To be continued.

Friday, June 27, 2008

Adeus, Lênin!

Digo que tenho um fascínio pelo Leste (que esteja claro, aquele da cortina de ferro) enquanto mato um lanche do Mc Donald’s acompanhado por uma taça de vinho branco francês vagabundo (Bordeaux, quand même...). Penso em cozinhar cuisses de lapin quando ele vier. Cortarei a receita do jornal do metrô (está ao lado da previsão do tempo, do horóscopo, das palavras cruzadas e do sudoku).
Mas no dia seguinte joguei o jornal fora ao arrumar a casa. Ele não veio, inútil esforço. E esqueci de cortar a receita. E perdi a oportunidade de vomitar coelhinhos.

Thursday, June 26, 2008

Flâneuse

Viciada em ler horóscopo. E ao mesmo tempo cito Cortázar em “Bestiário”. Atrações irresistíveis, a incorporação da baixa e da alta cultura, oh lala...
Vamos às citações:

“Estábamos bien y poco a poco empezábamos a no pensar. Si puede vivir sin pensar.”
Meu desejo para a noite de ontem.

“Porque a mi, a la lejana, no la quieren.”
Dispensa explicações.

“ ‘Vôtre âme est un paysage choisi.’”
Toujours.

A alta e a baixa cultura en moi même e na minha cama. E não é o equilíbrio perfeito. Pela primeira vez me senti bem ao ler que o amor é breve.

Moda: cultura desprezada, ou nem mesmo cultura. Um blazer de veludo no lugar da camisa do Interpol. Saio do elevador para o hall do prédio. Sinto o cheiro dele. Aliás, mesmo antes, ao descer as escadas de meu studio ou chambre de service. Mas o todo se forma à saída do hall do elevador. É um cheiro limpo embora francês. Como se imergisse em uma nuvem de limpeza de alta classe (os mármores e maçanetas douradas, tapetes persas compõem o cenário). Como já consigo identificar seu cheiro? Impregna. Assim como a cocaína, no meu caso, da baixa cultura. Sim, o cheiro impregna. E só o identifico quando o sinto. Num hall de prédio chique de Paris.

Cortázar: alta cultura. E o retomo, junto a minhas memórias, posto que já senti o frio de Budapeste. E quem mais... O castelo de Buda à noite, sob chuva. Sem neve. O frio é bem mais suportável que o de Paris. Uso um vestido branco, botas e meias de lã. Alina idealiza. Sou menos personagem. Mas só então.

Thursday, June 19, 2008

Toujours

The first of the gang to die.
De repente a gente cresce.
Joga a bola.
Obrigada, mamãe!

Sunday, June 15, 2008

Você precisa saber de mim

Alegria e calma pro meu lar. Eu não quero ver ninguém. Eu não posso ver ninguém. Mas não quero ficar sozinha embora sempre tenha dito amar a solidão. Na verdade queria que estivesse aqui. Mas começo a vestir minha máscara. Só falta colocar a fantasia.
Eu sempre a amarei um pouco mas nunca vou perdoá-la. Ou sempre vou perdoá-la e nunca a amarei um pouco. Minha honey baby.
Terra estrangeira. Preciso rever esse filme. Que filmes ainda irei rever? Preciso? Não sei. Mas às vezes há uma força irresistível. A gravidade e um buraco fundo dando pro mar azul. Mais um filme que já tanto revi.
Beijos,
Tchau.

Friday, June 13, 2008

Breves máximas de viagem, vol. 1

O Talvez sempre vem rápido demais. Que nem aquela imagem que você viu na rua e de repente te fez pensar que Talvez, outra vez talvez, você tivesse salvação como mais-um indivíduo-inspirado. Mas você nem lembra mais, mais um segundo não executado. Sem desculpa.
Aí, quando você tenta de novo, uma outra imagem. E de fato realiza o trabalho sujo, tudo soa uma merda de novo.
Perdeu a mão. Ou já teve depois de adulta?

Europeus não tomam banho, os caras nas placas de trânsito de Viena usam chapéu e parecem pedófilos seqüestrando criancinhas na terra de Natasha.

A violência do Rio parece história da carochinha para os gringos.

Os franceses são burocratas estúpidos e tarados. Os serviços do Brasil estranhamente funcionam muito melhor; veja só, superamos o “Primeiro Mundo”.

Vamos gastar o dinheiro do papai.

Toda menina aos 13 anos escolhe se vai ser santa ou puta. Ou quem sabe uma puta santa?

Jusqu’au but?
Agora eu já fui até o fim.

Não fique feliz por eu estar fazendo isso agora. Não é para você, é por você e por isso deveria se preocupar.

Maybe...

Always maybe. We are real shoegazers. It’s so amazing.

Esqueci minha língua materna em Portugal. E eu falo português.
Native speaker, baby...
Aos 21 anos algumas pessoas escolhem ser estrangeiras ou não.

Minha língua nunca vai me dar um emprego por essas bandas.
Eu nunca vou estar à altura.
Latin White Trash. Je ne crois pas que tu es une sans-papier.
Mas não tem nenhum europeu na sua família? Impossível.
Sim, possível. 100% Nacional. Parte do PIB.

Como se só o Rio merecesse músicas em homenagem.

Eu poderia não me preocupar se o mundo não fosse tão burro.

Tenho que tirar a Ana Cristina Cesar da estante. Preciso dos meus livros.

Sempre algo para me preocupar.

Kicked out? Até agora não.

Nunca pensei que fosse achar alemão uma língua bonita. O amor atrapalha o senso estético? Ou só faz mudar um pouco de idéia? Música multilíngue com trechos em francês e sotaque germânico.

Peça para um novo blog, quem sabe outra Bruna Surfistinha (já caiu da mídia, hein?) Catherine M.? – “União dos povos” – O primeiro judeu com quem trepei parecia um cavalo (o tamanho, sejamos claros) e o muçulmano era uma gracinha. Foi bom.
E eu sou católica de formação,e, veja só, estava trepando pela Europa.
United Colors of Benneton.

Toda menina aos 13 anos escolhe se vai ser santa ou puta. Para os amigos, escolhi ser puta; na minha cabeça tenho uma santa paciência.
De Jó.

E quem vai querer namorar a puta?

“Quem dá mais? Quem dá mais?”

No livro que traduzi havia um leilão de calcinhas melecadas. Ser boa de cama já me trouxe vários problemas. E nem sou tudo isso. Agora meu blowjob só tem 99% de aprovação.

E você não entende minha língua nem eu a sua mas nossas línguas – y otras cositas más – se entendem.
Piadinhas baratas.

Fluxo de consciência = stream of consciousness.

Dor de barriga. Sempre é psicológico.
Sexo. Sempre é psicológico.

Já escrevi cinco páginas de um caderno pequeno. Palmas para mim.

Sei que não estás sendo um bom amigo.
Nem eu uma boa amiga.

Now I have a girlfriend in Paris.
I won’t move in with anyone anymore.
My hometown is too small for you.
O Talvez sempre vem rápido demais.
Maybe...

Elas sempre deixam as sobras e eu cato os cacos. Auto-punição.
Outra referência à sangue? Too much.
Não dá mais para bancar a adolescente atormentada. Já deu.

Sonhei que você virava um coelho.
Ainda bem que não.

Gastei meu tempo aqui e continuo com sono. Não cheirei. Caramba, me ofereceram heroína. Sério. De verdade. Morra de inveja.

Cheirar com uma nota de 100 euros. Não tem preço.

Estou vomitando tudo agora, de repente. Psicológico.

Acordar tão cedo amanhã.

No final tudo dá certo. Vamos pagar para ver.

Ninguém entende e ninguém vai entender. E eu esqueci de escrever a respeito. Freud explica?

Tuesday, June 10, 2008

Orly, sem samba.

Eu vi o avião passar e soube que aquele primeiro em que eu tinha voado e que cobria a linha mais importante do Brasil seria aposentado. Eu tinha cinco anos e fiz uma música para o Electra. Meu primeiro vôo fora no ano anterior. Eu brincava de avião em casa e meu pai trazia tudo o que estava ligado ao vôo de suas viagens. Desde as miniaturas e souvenires com a logomarca da companhia, até talheres, copos e guardanapos devidamente desviados de seu destino, quando ainda havia um glamour em levar alguém ao aeroporto. Uns vinte anos depois a grande companhia aérea da minha infância, que me fez querer ser aeromoça – e minha mãe dizer que filha dela não tinha nascido para servir bandejas – foi pra bancarrota e eu para a faculdade. Pela primeira vez levei alguém sozinha ao aeroporto. E é sempre na volta que me sinto menos estrangeira.