Sunday, August 23, 2009

Immigrant Punk

Não sei de onde veio isso. Talvez o recalque por causa da viagem da escola a qual não fui. Chorei de raiva quando soube. Eu já não era mais daquela escola, mas a turma escolhida seria a minha.
Mas teve um show, quando eu tinha 14 anos. Eu jamais dançara. Fui sozinha. E ali dancei pela primeira vez, não pude controlar. O efeito foi melhor do que o de quase qualquer droga, mesmo hoje, tantos anos passados.

Talvez sempre tenha estado em mim. Faz sentido. Mas não sei se teria feito diferença se soubesse disso antes. Talvez eu soubesse tocar alguma coisa, talvez tivesse uma iniciativa pioneira. Nada disso. Nem a preparação para a carreira de atriz, as aulas de desenho, nem os contos publicados ou o livro finalizado aos 21.

Mas é isso. Não há muito o que dizer.

Também houve um filme, eu devia ter uns 13. Deve ter sido um dos primeiros ditos “de arte” a que assisti e com o qual automaticamente pirei. Gravei em VHS e via repetidamente.

Só hoje juntei os fatores.

Só espero encontrar outros que entendam a satisfação de não pertencer a lugar nenhum, ou talvez, a um impresso apenas em algum lugar muito fundo na carne, como um gene adormecido há gerações.

No mundo ideal, eu pararia tudo e viveria somente para isso.

E agradeço a pessoas com quem conversei por cinco minutos pela epifania.

Faz sentido. Faz parte do que está gravado na carne. De quem não é de lugar algum.

Tuesday, August 18, 2009

Sem licença poética

Um diário cru. Sem trocar hoje por ontem e sempre e vice-versa, vice-versa. Eu por ela por ele por eles pela ausência (que se assume definitivamente com minúscula).

Lição 1 – prática epistolar:

Hoje fui ao consulado. Por algum estranho motivo, sempre sou bem tratada por lá. Finalmente vi a Virada Russa. Detestáveis guardinhas do CCBB que não deixam tirar foto para usar de papel de parede no celular. Gostei da Natalia Goncharova, que não conhecia. Finalmente fui buscar a carteira de motorista. A foto ficou incrivelmente boa. Poderia ser sempre assim. Terminei um dos livros ontem. Falta a metade de outro.

Queria contar várias coisas. O show do Yann Tiersen nas cercanias parisienses no dia do seu aniversário. Estarei lá sozinha, estendida na grama, sol na cara e um cigarro na mão. La dolce vita. Ouvi pela primeira vez The Bird and the Bee. Altos muito altos e baixos muito baixos. Polite Dance Song. Clipe totalmente lynchiano. Encontrei amigos que não via há anos no show de sábado. Trocamos figurinhas sobre música, projetos, trabalhos, amigas com crises de ciúmes que beiravam o surrealismo.

Cheguei à conclusão de que minhas histórias da última temporada no Velho Continente vão de Buñuel a telenovelas mexicanas.

Lá aprendi a esconder quase bem minhas feridas. Ganhei mangas compridas permanentes sobre meus braços. Parei de escancará-las, enfiar os dedos lá dentro e esfregar o sangue por todo o corpo do outro. Hoje, no máximo, quando goteja, dou uma lambidinha. Gosto do sabor, é inegável.

Você sabia que já fugi para Paris fantasiada de Ingrid Bergman?

Continuo achando “Os Sonhadores” uma merda e o Louis Garrel, pelo menos nesse filme, não me faz mais Oh-la-la-la-la...

Tenho a impressão de que os verdadeiros escritores nunca terminam suas cartas com as formalidades conhecidas.

Só assinam.

Monday, August 17, 2009

Holograma

Até há pouco não sabia se era checo ou polonês. Descubro por uma conjução. É checo. Fala sobre um autor russo, discípulo de Turguêniev e Tchekov, por dedução.
A língua que eu queria que falasse e que estivesse no seu lugar, mas que em vez disso apenas desencaminha. (Todas as línguas são descaminhos.)
Ah, se ela voltasse, c'est dur, se eu voltasse e você falasse sobre a valsa vienense, porque de Schiele, ouviria falar, pela primeira vez, no Rio de Janeiro, no primeiro ano de faculdade.
Pela forma, sigo, será assim pela formalidade e, assim, na teoria da poética, já pelo nome, tudo soa muito, muito antigo.
Mas se estivesse...
Agora aqui, no papel, contradição em termos, pela prática, só porque soa mais bonito.
Se estiver a esperar a valsa; você, no meio da noite, esquece o de cinco minutos (tão velha). Ou de tantos anos? O quê? Sempre volta a Drummond, pensa em tantos versos sonoros.
Porque, no fundo, sentirei vergonha aguda, pela confusão puramente etílica, que são todos vocês, misturados, e um amor que acabáramos esquecendo.
Ou aquele de vocês apenas, sempre presente. Ela sou eu agora. Quem quer que seja.
Poética de botequim no veículo das teorias em formato antigo de cartão postal. Descrevo.

Thursday, August 06, 2009

Entidades

Acho que vi um fantasma. Talvez fato fosse que sempre tenha sido um fantasma que via, mas não sabia então. Viro o rosto e esfrego os olhos. Mais uma vez será ele a me fazer escrever. O que não vi. Presumo.
Invejo amores. Eles me dóem.
E ainda escrevo pela dor. Cujo fim tem data marcada na qual nego crer, involuntária.
Para rir um pouco: I see dead people.
O ceifador veste-se de preto. Eu também, embora hoje privilegie as cores. Tento, ao menos. Acato sugestões das vendedoras das lojas. Um lilás (ele disse gostar de mim com cores claras, há anos; alguns meses depois descobri que gostava de lilás), um vermelho (ele disse que nunca vira uma garota com lingeries tão bonitas quanto as minhas; recente), um preto (vontade própria e incontrolável).
No velho mundo, fantasmas assombram apenas as catacumbas de Paris ou a vampiresca cidadela de Bran.