Saturday, June 25, 2005

Ressaca pós-festa

Peço licença a JP Cuenca.

Vire-se. Agora venha por cima. Não durma, vou deixar as luzes acesas. Um filme argentino ou um tango em Paris. É você quem sabe. Racional: sua escolha já possui bases sólidas, um ano de experiência - comprovada em carteira. Anda, não agüento mais esperar, mocinha, saiba que qualquer mão serve para massagear o ego. A sua é mais uma e delicadíssima e sem firmeza ( cheiro de perfume masculino amadeirado, forte demais para narizinhos empinados e elegantes, principalmente pela manhã ou num fim de tarde chuvoso num engarrafamento em Copacabana). Decida-se ou vou embora agora, não é brincadeira, bonecas de porcelana são doces representações, a realidade é plástico prensado.
Ela sonha - louca, desvairada, dança nua um bolero sobre uma mesa de bar , o terceiro de cinco, espremido entre o antes e o talvez e não fora. Ela é doente, você sabe disso, não chegue muito perto e seja amável. Você é muito bonita sim - e sua educação é notável, caro rapaz. O problema é que ela é doente e você sabe disso e diz você é bonita e ela não quer seu futuro enquadrado na Paris-Match e sim um digo que fico e ela se foi no terceiro de cinco e talvez fosse alegoria. Tinha trinta anos e a boca rachada pelas vontades dos Homens a quem ela servia de bom grado. Não existe nojo para as pseudo-soviéticas.
Passos. Numa noite de sábado, a menina triste de olhos verdes foi vista parada na esquina da Siqueira Campos com Nossa senhora. Espreguiçava-se.

Sunday, June 12, 2005

O primeiro aniversário

Hoje.
Assopra a vela. Bem-vindo. Ela nunca conseguiu cantar parabéns e não sabe bater palmas. Ou aplaudir de pé. Desde os cinco anos mais ou menos. Fosse a menina mais bonita da cidade - e arredores - seria diferente ( Bukowski entorna o uísque e apaga o cigarro na mesa do canto ).
No entanto, era irremediavelmente pálida - "hate summer" on her t-shirt- e tinha os olhos fundos de quem talvez, hipótese remota, houvesse dormido. Não esqueçamos o defeito na mão esquerda, visivelmente imperceptível. Tivera olhos verdes, fato. Pretérito mais-que-perfeito. Diante dos docinhos, mal conseguia olhar para frente. Sempre tomando outras dores,vergonha do ridículo dos sorrisos alheios, não sabia onde deixar os próprios braços. Traumas de infância análise resolve. Ou viram álibis ( Bukowski arrota, como você é grosso, mas afinal, é só sexo embora vez ou nunca escorregue um "te amo" quase engolido, sabe, é brega mesmo assim, não quer isso, quer?).
Naquele dia, porém, pintara a boca de vermelho puta e bebera vinho francês no gargalo apenas com seu par de gatos siameses. À la Marilyn, biquinhos e susurros para happy birthday to you. Câmera em close, plongé. Cores esverdeadas de fita velha. Uma saudação. Sorvendo as palavras para criar o hábito.
Fazia um ano abortara num açougue da Dona Mariana. Lei de Murphy, não podia mais ter filhos. Mal sucedeu em cortar os pulsos. Então tatuou uma cicatriz e uma data. Não fosse por isso, estaria brincando de casinha.
- Quem pode apagar as luzes?