Wednesday, October 25, 2006

O Porto

A primeira vez que ali pisei, em terreno de pedras portuguesas soltas, de salto alto. Muitíssimo bem maquiada, para que vissem, embora evitando a concorrência. Serviços prestados, quase uma profissional do terceiro setor, altruísta e sarcástica, todavia comumente definida por doce.
E todos os dias, por duzentos e dois, lá estava a caminhar e curvar-me, a acompanhar de braços dados aquele que se dispusesse e despendesse.
Ali estive por boa vontade. Própria e alheia.
Alheia.
Até mirar. Diante, e jamais notara.
Por pequena numa cabine de bandeira panamenha ou filipina.
Por pequena ou enorme, dínamo sobre saltos e seios no Puma Hotel. Um canivete na bolsa.
Aqui se faz, muito bem feito, e aqui se paga.
Se faz, do jeito que quiser. Por todos os lados e poros e mucosas. Sem frescura.
Olhando na cara. Mas se tentar bater, leva.
Um canivete na bolsinha. Junto com instrumentos de trabalho e a féria.
Até mirar.
Eles navegam sobre mim, em ondas. Eu flutuo.
Suave.
Mas engulo a seco. Um ínfimo sobressalto, apenas na garganta. Uma vaga no pescoço. Como se fosse qualquer veneno, amargo.
E assim me regozijo.
Mesmo a mirar.
A garganta arranhada. Unhas nas costas. Traços vermelhos na pele.Sempre admiro a dor.
Talvez discreta, talvez não.
Mesmo a mirar. Diante, e jamais notara.

Tanto mar.